Cultura

Especial Cruz das Almas 124 anos: Comunidades Remanescentes de Quilombo Baixa da Linha e Vila Guaxinim

Por Ivana Moreira

Com a chegada do mês de julho os/as moradores/as de Cruz das Almas esperam ansiosamente para comemorar o aniversário da cidade. Assim, diversas memórias vêm à tona, pois, há mais de um século Cruz das Almas se emancipou politicamente desmembrando-se de São Félix, tornando-se um dos municípios mais importantes do Recôncavo Baiano. 

Porém, muitas pessoas da cidade ainda não conhecem as riquezas históricas presente no município cruzalmense, este por sua vez, foi uma freguesia de Cachoeira que era considerada no período Colonial e no Império uma cidade importante economicamente.

 Ao longo de sua história, Cruz das Almas se destacou pela fertilidade do solo, entre as décadas de 30 a 50 o fumo tornou o município bastante conhecido. Desse modo, Cruz das Almas é conhecida até os dias atuais como a  “Capital do Fumo” por ser a maior produtora de tabaco da Bahia. Mas,  não é só isso, a história secular desse município conserva o passado e todo o seu legado e tradições, assim, em Cruz das Almas encontram-se duas Comunidades Remanescentes de Quilombos reconhecidas e certificadas pela Fundação Cultural Palmares (FCP). A Comunidade Baixa da Linha e Vila Guaxinim, ambas são referência de luta e resistência e são orgulho para os cruzalmenses. Além disso, elas estão situadas no território de um sítio arqueológico que atrai pesquisadores de todo o país. 

História das comunidades

A Comunidade da Baixa da Linha ou Linha, por muito tempo foi conhecida em Cruz das Almas como um lugar carente, porém, muitos não sabem sobre o legado histórico que constituiu esse local. Sendo assim, a Linha já foi e continua sendo objeto de pesquisas, muitos estudos históricos e antropológicos. Foi então que em 27 de setembro de 2010  uma Certidão de Autodefinição foi  expedida  pelo Departamento  de Proteção ao Patrimônio Afro-Brasileiro. A localidade foi reconhecida e certificada, desde então tornou-se uma Comunidade Remanescente de Quilombo e traz memórias e as marcas de um território ocupado ancestralmente por indígenas.

Os relatos dos mais antigos que residem no local sobre a fundação da comunidade remete ao início do século passado, mais precisamente na década de 30. Vale ressaltar que uma exploração de pedreiras para a produção local e também em larga escala, iniciou-se neste local que estava distante do centro da cidade de Cruz das Almas. A partir de então, os trabalhadores passaram a povoar essa área morando em casas de taipas e palhas. Mas, no ano de 1972 a pedreira foi desativada.

Estação de Cruz das Almas, área de embarcação. Foto: Reprodução/ Nilton Antonio Souza

No entanto, há diversos indícios que o local antes foi habitado por indígenas, segundo os próprios moradores existe um espaço na comunidade onde os índios provavelmente amolavam as flechas em pedras. Assim, pode-se compreender que esse território possui uma história anterior a da própria cidade de Cruz das Almas. De acordo com informações de pesquisadores, essa comunidade foi construída em cima de um sítio arqueológico que possui mais de 500 anos.

Nos anos 2000 moradores da Linha encontraram cerca de três ou quatro urna funerárias indígenas, mais tarde em 2006 mais cinco artefatos foram encontrados. Porém, já havia registros de descobertas desses objetos desde a década de 80. Essas urnas funerárias de origem indígenas eram grandes potes de cerâmica de vários tamanhos que geralmente eram utilizados para o sepultar os mortos.

Já a Comunidade Vila Guaxinim foi certificada em 2013, pela Fundação Cultural Palmares (FCP), após estudos de antropólogos e historiadores da UFBA e UNEB comprovou-se que historicamente esta localidade já era uma comunidade quilombola.

Sendo assim, os moradores destacam que essa área foi sendo povoada aos poucos a partir da década de 40 com a instalação da Escola Agrícola. Assim, trabalhadores migraram para essa região e ajudaram com a fundação dessa Escola e desde então muitos constituíram famílias e não foram mais embora ou até já faleceram residindo nesse mesmo local.

Porém, pessoas mais velhas que moram na Vila afirmam que a comunidade possui mais de 100 anos de existência, pois, já havia residentes neste lugar antes mesmo dessa localidade tornar-se Escola Agrícola, depois Escola de Agronomia e posteriormente Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB).

O nome Vila Guaxinim é uma homenagem ao senhor Luiz Santana ou Luiz Guaxinim (1926-1995), como era conhecido por todos, um dos moradores mais antigos do local. Já o nome Vila, vem da área em que o senhor Guaxinim morava, pois, com o passar do tempo foi sendo povoada pelos seus descendentes até formar uma pequena vila. Vem daí o nome Vila Guaxinim.

Atualmente, são desenvolvidas diversas atividades culturais nas duas localidades: artesanato, capoeira, culinária, além de encontros e diálogos para fortalecer a identidade quilombola. Também, destaca-se a agricultura familiar, pois muitos moradores sobrevivem do plantio da terra. É importante destacar que as duas comunidades tanto a Baixa da Linha quanto a Vila Guaxinim estão situadas no entorno da UFRB e inclusive dividem terras, ambas foram construídas em cima desse sítio arqueológico.

Atividades desenvolvidas na Comunidade Vila Guaxinim e Baixa da Linha. Foto: Divulgação

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Um Comentário

  1. Muito boa matéria, ressalto que o projeto de mapeamento de comunidades quilombolas foi elaborado pela Secretaria de Políticas Especiais, na gestão da Professora Ilza. Os estudos tanto da Baixa da Linha quanto da Vila dos Guaxinins foram realizados pelo professor e pesquisador Eduardo Santana, inclusive, fez um trabalho voluntário, pelo seu compromisso com a luta antirracista.

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