A professora Milla Borges, que acumula oito anos de experiência na orientação de redações para vestibulares e seis alunos com notas máximas no ENEM, elaborou cinco dicas para auxiliar outros professores que querem que seus alunos atinjam uma boa nota na redação do ENEM.
Visando promover a escrita autoral e o pensamento crítico entre seus alunos, Milla é uma crítica veemente aos “modelos prontos” e destaca que o cenário atual do ensino da redação é dominado por uma estrutura inflexível, na qual os alunos são compelidos a memorizar e encaixar o tema proposto em um único parágrafo.
Por isso, fique ligado nas seguintes dicas:
1) Estimule o seu aluno ao pensamento crítico
Um dos grandes medos dos alunos é não saberem o que escrever sobre o tema da redação. Isso porque, de um modo geral, a sociedade estimula pouco ou quase nada o jovem a pensar com autonomia sobre as questões que o circundam. Assim, os estudantes ficam inseguros para defenderem as suas opiniões e, com frequência, recorrem ao Google, ao ChatGPT ou simplesmente reproduzem, sem grandes reflexões ou questionamentos opiniões de artistas, influenciadores e outras figuras públicas. Empodere o seu aluno por meio do conhecimento. Uma boa dica é fazer debates em sala de aula, júri simulado, aulas de discussão temáticas em que os alunos precisam estudar os temas previamente. Além disso, incentive a leitura de notícias, artigos e obras literárias relevantes. Isso expandirá sua compreensão do mundo e os capacitará a elaborar argumentos sólidos. Dessa forma, eles desenvolverão autonomia e segurança para se posicionarem, defenderem e sustentarem as suas ideias.
2) Ensine as competências
É muito importante que os seus alunos conheçam as regras do jogo. Pode parecer bobagem, mas é algo que muitos professores negligenciam. O ENEM faz uma correção em larga escala, portanto, tem, em cada competência, critérios bem definidos para que a correção seja justa e equânime. Sendo assim, é um grande diferencial quando nossos alunos sabem exatamente quais são as exigências da banca e o que o corretor espera encontrar em cada parte do texto. Como sabemos, a redação do ENEM vale 1000 pontos e esses pontos são avaliados em 5 competências: a competência 1 que avalia o uso da norma culta; a competência 2 verifica a tipologia textual dissertativa-argumentativa, a abordagem completa do tema e o uso de repertórios socioculturais que, de acordo com a banca, precisam ser pertinentes ao tema, legitimados por áreas do conhecimento e ter uso produtivo no texto; já a competência 3 avalia a execução do projeto de texto e a argumentação propriamente dita, englobando a coerência textual e o desenvolvimento das ideias. A Competência 4 analisa a coesão texto, sobretudo, o uso dos conectivos, dos operadores argumentativos e dos mecanismos linguísticos de referenciação. Por fim, a competência 5 vai avaliar a elaboração de uma proposta de intervenção para o problema apresentado no texto. De acordo com os critérios da banca, a boa proposta de intervenção precisa apontar uma ação, um agente, o meio ou o modo de execução dessa ação, a sua finalidade e, além disso, o aluno precisa apresentar sobre um desses aspectos um detalhamento, ou seja, uma informação adicional. Ao entregar esses conhecimentos aos seus alunos de forma clara, apresentando exemplos, você garante maior segurança a ele na hora de escrever.
3) Para além de dominar a estrutura do texto, é fundamental que você ajude os seus alunos a dominar a estrutura de cada parágrafo
Muitos professores se preocupam apenas em ensinar a estrutura geral do texto dissertativo-argumentativo: introdução, desenvolvimento e conclusão. Realmente, é bem importante que o aluno conheça cada uma dessas partes e entenda a função de cada uma delas. No entanto, um grande facilitador para o processo de escrita do aluno, sobretudo no que se refere à organização das ideias, é dominar a estrutura de cada parágrafo. Por exemplo, o parágrafo de introdução estrutura-se a partir de uma contextualização, da apresentação da frase temática e da exposição da tese do aluno já com os dois argumentos que serão discutidos ao longo do texto. Já os parágrafos de desenvolvimento dividem-se em quatro partes, sendo elas o tópico frasal, a problematização do argumento, a fundamentação, ou seja, o embasamento argumentativo e a finalização das ideias apresentadas. A conclusão, geralmente, é composta por uma retomada do tema, por uma proposta de intervenção que abranja os dois problemas discutidos no desenvolvimento ou duas propostas distintas, sendo uma para cada problemática e por um desfecho. Dessa maneira, o aluno consegue organizar de forma muito mais eficiente as informações que vai mobilizar em cada parte da redação, o que contribui para uma sequência lógica das ideias e uma escrita muito mais fluida.
4) Estimule à prática de escrita
A prática constante é o alicerce para o aprimoramento das habilidades de redação. No entanto, muitos alunos enfrentam obstáculos emocionais que os impedem de se engajar plenamente nesse processo. Temos, de maneira geral, uma cultura escolar punitiva em que errar é quase um crime. Nesse viés, muitos alunos, por medo de um feedback negativo sobre sua escrita, adiam ao máximo o processo da produção textual. Outros fatores, como preguiça, insegurança e sensação de incapacidade também podem minar a vontade de escrever. Como professores, é crucial que compreendamos essas barreiras e adotemos abordagens eficazes para ajudar os alunos a superá-las. Criar um ambiente acolhedor e estimulante em sala de aula, no qual os erros são vistos como oportunidades de aprendizado é fundamental para que o aluno crie uma rotina de escrita. Uma coisa que ajuda muito neste processo é o aluno ter um dia específico na semana para escrever a sua redação. Uma redação por semana é uma meta que, de um modo geral, cabe na rotina do estudante e isso cria um senso de realização e progresso.
5) Faça da sua correção uma ferramenta de estudos
Não adianta o aluno escrever a redação se ele não recebe um feedback adequado. Comentários vagos como “aprofunde melhor seus argumentos” ou “explique melhor essa ideia” só confundem os alunos e não contribuem para o seu processo de evolução textual. Na cabeça do aluno, muitas vezes, esse tipo de comentário não faz muito sentido. Afinal, como o aluno vai melhorar a sua escrita se ele não consegue compreender muito bem os seus erros? Então, o ideal é que consigamos fazer uma correção humanizada e detalhada. Uma correção que leve em consideração que ali, naquela folha, não há só um texto, mas um pedacinho do sonho de aprovação de um aluno; uma correção que elogie pontos fortes, critique pontos fracos, mas sempre mostre uma direção; sempre aponte o melhor caminho para aperfeiçoar a escrita do aluno, com comentários assertivos, específicos, individualizados, técnicos e motivadores.
Quem é Prof. Milla Borges
Professora Milla Borges é formada em Letras pela Estácio, especialista em Língua Portuguesa pela UERJ e mestra em Educação pela PUC Rio. Com oito anos de experiência em redação de vestibular, sobretudo no ENEM e na UERJ, tem como diferencial a sua metodologia de ensino, que busca estimular a escrita autoral e crítica dos alunos.
No ano de 2018, a professora teve o primeiro aluno que tirou nota 1000 na redação do ENEM. Em 2021, ela teve o privilégio de ter duas alunas também com nota máxima e, em 2022, orgulhosamente, mais três alunas suas alcançaram a tão sonhada nota 1000.
A paixão da professora Milla Borges pela escrita e pelo ensino da Língua Portuguesa se reflete em sua abordagem pedagógica. Ela é uma crítica ferrenha dos “modelos prontos” e acredita que a escrita autoral é a chave para o sucesso acadêmico e pessoal dos estudantes. Sua metodologia é pautada na criticidade e na autonomia de pensamento dos alunos, encorajando-os a desenvolverem suas próprias ideias e opiniões sobre os mais diversos assuntos.