
No primeiro dia do mês de março, em torno da Estação Ferroviária Central da Bahia localizada na cidade de São Félix (BA), ocorreu um abraço simbólico com a presença de autoridades, representantes de movimentos sociais e moradores em defesa da reforma do imóvel.
De responsabilidade do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), a estação, que já foi ponto de chegada e saída de passageiros e mercadorias em décadas passadas, agora encontra-se com partes caídas, sem telhado e tomado pela vegetação, apesar do trem ainda passar pelo local.
Do outro lado do rio Paraguaçu, na cidade vizinha de Cachoeira, estão as ruínas do casarão que foi sede do Hotel Colombo, o qual, no penúltimo domingo de fevereiro (18), virou notícia nacional depois de uma das poucas partes da estrutura que ainda se mantinha de pé desabar e atingir carros parados próximo ao local. Há anos em ruínas, este imóvel encontra-se destelhado e tomado pela vegetação.
Sobre o desabamento, a Prefeitura de Cachoeira publicou uma nota nas redes sociais esclarecendo que os proprietários “foram notificados repetidas vezes” e que “tomou todas as medidas necessárias acionando os órgãos competentes”.
Ambas as construções são importantes bens materiais do Patrimônio Cultural Brasileiro, tanto que fazem parte de conjuntos arquitetônicos, urbanísticos e paisagísticos tombados pelo Instituto Nacional do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural (Iphan). A estação ferroviária, construída no século XIX, está tombada desde novembro de 2010 e o casarão de Cachoeira, cidade que o conjunto é composto por casarões e igrejas datados em sua maioria do século XVIII e XIX, tombado pelo mesmo instituto desde 1971.
Em decorrências das suas respectivas importâncias, não é de se surpreender que ambos os imóveis têm histórias relacionadas a tentativas de preservação, restauração e valorização.
No caso da estação ferroviária, o Ministério Público Federal (MPF) já tinha ajuizado uma ação civil pública em julho de 2014 contra a União, o Iphan e o DNIT, requerendo a imediata restauração.
Já o casarão do Hotel Colombo, o qual já havia desmoronado em parte em janeiro de 2019, o Iphan, à época, através de uma nota, informou que o proprietário, responsável por manter o imóvel, seria notificado; enquanto a prefeitura da cidade, também por meio de nota, afirmou que colaboraria para a restauração do casarão, apesar do imóvel não ser do município.

Sobre a situação dos imóveis particulares, como é o caso do casarão em Cachoeira, o historiador cachoeirano Cacau Nascimento apontou que uma das problemáticas relacionadas à preservação, tanto em Cachoeira quanto em São Félix, é o fato da população querer que a União e o Governo do Estado destinem recursos para restauração dos imóveis, quando isso na realidade é de responsabilidade dos proprietários.
Questionado sobre quem mais perdia com a falta de preservação desses conjuntos, Cacau foi objetivo ao responder.
“Porque nós temos um belíssimo acervo cultural, um belíssimo acervo arquitetônico, um belíssimo acervo histórico e que cada desfalque desse é um desfalque na história.”.
Por fim, o historiador apontou que a melhor forma de reverter essa situação seria por meio da conscientização de todos quanto a preservação do patrimônio.
“A coisa mais correta é a conscientização patrimonial, a educação patrimonial, e isso é feito pelos poderes públicos estadual, federal e municipal por meio das escolas para conscientização da criança até o adulto de que aquilo é um bem que precisa ser preservado. Não é impor, é convencer de que aquilo precisa ser preservado.”, afirmou Cacau Nascimento.
Por Camila Souza